sábado, 27 de novembro de 2010

Saudade do que nunca vivi...

Aqui estou,  expressando a saudade daquilo que nunca vivi!
Reivindicando aquilo que sempre me foi de direito e que meu mundo interior me dá breves notícias:
.amor incondicional, para entender-me íntegro; 
.aceitação, para construir-me em solo seguro;
.confiança constante, para saber-me generoso;
.colo acolhedor, para brincar com os fantasmas;
.amar/odiar primária e implacavelmente, para conhecer o perdão;
.acreditar que o mundo é um lugar de vida e relacional, para entender a solidão.

Ah! quanta saudade de tudo o que me falta...
Ilusão de plena felicidade, não posso mais carregá-la!
Necessito libertar-me, pela urgência de viver em mim.
Desconstruir tal onipotência, para vir-a-ser tudo o que for.
Existir para além dos muros...
Quero a mim mesmo de volta!!!
...

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Somos feitos da mesma matéria dos sonhos


Corpo... esse enigma que nos insere no mundo e por onde apreendemos esse mesmo mundo. 
Somos significante e significado. 
Construimos uma identidade a partir dessas significâncias. 
Construimos um corpo que simbolize aquilo que somos. 
Mas invariavelmente vamos além disso. 
Vamos além deste símbolo, posto que somos também desejantes a partir deste mesmo corpo. 
E o desejo constrói, distrói, reconstrói, desconstrói o que somos. 
O corpo atua como veículo deste desejo.  
Também somos feitos pelos olhares, toques, simbolos, proibições, tabus, ao longo de toda nossa existencia. "Somos feitos da mesma matéria dos sonhos", dizia Shakespeare. 
Podemos voltarmo-nos a nós mesmos e indagar de quais sonhos temos nos construído? 
Será que percebemos que fomos e somos continuamente invadidos por um mundo erotizado, pré-genital?
Perceberemos que nosso desejo está inserido num mercado de consumo, onde os eus-objetos estão elevados ao mais alto grau do mercado - o zênite - marcados pela insaciedade e pelo destino inexorável - o descarte, como dejetos? 
Um desejo que invade, que não se deixa aplacar, que toma o corpo como coisa, como objeto de uso e descarte, onde nossas energias escoam ralo abaixo, sem que delas possamos usufruir. 
O corpo tornou-se um aglomerado de partes, onde o todo está perdido, esquecido, esquartejado. 
Esse esfacelamento de nossa integridade já vem marcado pela nossa história enquanto seres marcados pelo desejo do outro.  
Não nos permitiremos alcançar a plena genitalidade sem instaurar em nós a necessidade de sentirmo-nos envolvidos com e pelo outro. 
Permanecemos na posição narcísica em que nos colocamos, alimentando somente a egolatria. Usufrui-se do corpo com uma mente erotizada, direcionada exclusivamente para o gozo imediato, marcada pela necessidade da obtenção do prazer a qualquer custo, de qualquer jeito. 
Corrompe-se a própria integridade em nome da eterna busca egoísta de prazeres - o prazer de Ter e o Ter prazer - em detrimento da busca pela quietude da mente e o domínio sobre as emoções e, portanto, sobre si mesmo. 
Sonhamos com o prazer eterno, esquecendo das implacáveis vissicitudes e decrepitude do corpo, que nos arrancará a possibilidade de nos estendermos nesse sonho hedonista mortífero. 
Antes mesmo que as impotências nos invadam inexoravelmente, conseguiremos compreender que as sensações proporcionadas pelo nosso corpo é apenas uma ínfima faceta das multiplicidades que podemos encontrar em nós mesmos?  
Encontrá-las sollicita de nós enfrentar, não só o prazer, mas também a superação das nossas limitações, pelo esforço contínuo, pelo trabalho constante. 
Um novo prazer surgirá, que se esconde no polo oposto, em nossos subterrâneos - o nadir - onde encontraremos as necessidades da alma e os motivos de nossa existencia, do qual voluntariamente nos desconectamos e do que não nos furtaremos jamais.