domingo, 29 de agosto de 2010

Sublim'ação


Desço as escadas da tua profundidade,  degrau a degrau,
sem expectativas, sem medos, sem heresias.
Exploro os porões, sob a tensão de teu temeroso consentimento...
Sondo os elementos de teu submundo,
empoeirados, abandonados, exilados...
como se há muito tal recâmara estivesse esquecida.
Rostos, ações, sentimentos, sinto-os ao toque do pensamento,
através de óbices múltiplos do ambiente hostil,
porém não desabitado... Não!
Lá encontro, pulsando tímido, o coração empedernido.
assustado e febril, enredado em fluidos desconhecidos.
Aprendo sobre monstros e fantasmas da tua dor dilacerante,
que teimam em ocultar-se, denunciando a fuga da consciência...
Perscruto o segredo e o sagrado em ti,
(e você a permitir-me tal intuição...)
Provém de ti uma beleza indefinível, que sopra de leve minha fronte!
Eis o avesso do avesso!
Sensível, me disponho a tanta ternura enclausurada,
tanto desejo autêntico, fundante, tanto Amor incipiente.
Minha loucura tangencia a tua, e ofereço-me humildemente,
ladeando-te no palmilhar das veredas em que temes avançar.
Lixo emocional mesclado ao pueril de teu Ser.
Na simplicidade fundamental,
retorno, lentamente, à superfície de ti,
não sem notar as transmutações de sentimentos,
que exploram os receios, que escancaram os medos,
à medida que toco o solo em que te eriges!
Tudo acontece em minutos...
e a cada visita nos porões do Ser os sentidos serão acendrados, o espírito fortalecido,
 e o desejo tornado sublime pelas energias e ações sutis do Amor.
Sublim'ação!!!



terça-feira, 24 de agosto de 2010

Fardo leve...




Desistindo de não sofrer... 
viverei a dor, assim, como um fardo leve, 
porque leve está o coração...

domingo, 22 de agosto de 2010

Espaço Analítico

Lugar de acolhimento, 
tua loucura aninhada à minha.
Ausência de medo do pático do outro e de si mesmo
Presentificação de ambos, sem a compulsão saneadora,
Não há certo ou errado, há a sua presença e a minha,
Momento de criação a partir da "doença"
Respeito...
Necessário ir além do lugar de instabilidade e insegurança 
- lugar do humano
Necessário aceitar a condição incompleta, não divina, 
A condição dependente, vulnerável, da experiência humana,
E aprender com ela...

A criatividade, assim colocada, nasce da "loucura" de cada um.
A criação a partir da nossa miséria, da nossa infinita pequenez,
A desistência, confortável, de ser o Ser total, o ser da completude.
Descobrimos, juntos, que a experiência psíquica é sempre sofrida,
Uma visão singular da dor,
Singularidade construída pela história do desejo de cada um,
pela história da frustração de cada um...
Aceitação criativa - e não submissa - da dor
Espaço analítico de experiência, de criação de si,
Aprendendo com a própria dor,
Aprendendo a desistir de não sofrer!



sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Transformações...

Tudo se transforma...
O hoje se transforma preparando o amanhã,
a busca frenética prepara o verdadeiro encontro, 
a criança se tranforma preparando o Homem...
A sensação de perda é somente o sinal de apego que temos àquilo que clama por transformação:
-A própria vida!

Amor Líquido


Ser humano pós-moderno, globalizado...
Aquele que vive a "Vontade de Liberdade" na busca por individualização,
carcaterizado pela atualidade, pela velocidade, pelas relações inconsistentes e descartáveis.
As relações são feitas para não durar, 
expressão da busca da liberdade em detrimento das relações estáveis.
Relações em frenético movimento, marcadas pela ausência de peso.
O movimento da busca tira o foco do objeto desejado.
Novos "produtos humanos" mais atraentes, mais estimulantes se apresentam,
prontos para serem "consumidos"...


São relações frágeis, liquidas, entre pessoas sem vínculos, livres de compromissos com o outro,
porém, presas psiquicamente pelo medo do outro, corroídas pela insegurança.
A incerteza apresenta-se radicalizada em todos os campos da interação humana.
Sensibilidade alérgica e febril ao desconhecido,
incapacidade de aceitar e cuidar do humano na humanidade.
O medo instaura-se. A segregação é imposta e escolhida.
Cultuam-se os vínculos virtuais...
Num mundo instantâneo, é preciso estar sempre "pronto para outra".
Não há tempo para o adiamento, para postergar a satisfação do desejo,
nem para o seu amadurecimento.


Habitantes circulando pelas conexões líquidas da pós-modernidade,
tagarelas à dstância, porém, fechados em si mesmo.
Homens e mulheres presos numa trincheira sem saber como sair dela, e,
sem reconhecer, com clareza, se querem sair ou permanecer nela.
Movimentam-se em várias direções, entram e saem de casos amorosos...
Esperança mantida às custas de um esforço considerável,
tentando acreditar que o próximo passo será o melhor.
Desejo de expugnar a irritante alteridade, que separa os amantes daqueles a que amam...
Temem o que sempre foi vivido como uma ameaça: o desejo e o amor por outra pessoa!


Busca-se o outro pelo horror à solidão,
mas mantêm este outro a uma distância que permita o exercício da liberdade.
Relações que oscilam entre o sonho e o pesadelo - 
- Não há como determinar quando um se transforma no outro!
O amor  líquido se edifica  sobre a dúvida!
Evita-se o contato com o indesejável,
Evita-se o contato com aquele que demanda certo tipo de comprometimento ou vínculo,
Evita-se o contato com aquele que lembra o fundamento da civilização -
- amar ao próximo como a si mesmo.



Referência ao livro Amor Líquido, de Zigmunt Bauman




terça-feira, 17 de agosto de 2010

Dia de anjo...


Hoje, o melhor de ti...
O carinho, a ternura, o cuidado.
Assim, acima de ti mesmo, chego a implicar-me com tua alma,
absolutamente sensível, necessariamente envolvente...

Nestas alturas,
distante de colher as impurezas do teu solo revolto,
apreendes algo de sublime
que revelas nos olhar, na pele, no toque, na fala...
Se não te conhecesse o avesso, seria um dia de anjo.
Um dia de anjo...







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quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Polaridades


 Onde o sentimento? 
Animal-humano domesticado, cheio de instintos, escravo de sensações.
Vicios, vícios, vícios...
Subtrair a si mesmo para encontrar um ínfimo prazer, na dor ensaiada tantas e tantas vezes.
Ver-te assim reduzido a menos que ti... Que me pedes?
Odeia e coloca-me como cúmplice deste amor adoecido.
Olhos sem expressão, alma suprimida, consciência ausente.
Uma efusiva agonia que transpira, incoerente... 
Euforia! ...Quando falas és um que não há!
Hipocrisia ética! Des-valores!
Entretanto... uma súplica insiste, 
que brota do vulcão em erupção que te habita e que te domina, sem que disto te apercebas.
Haverá o sublime nascendo em meio à lava que escorre das montanhas de ti?
Diamantes em meio ao rio escaldante de tuas entranhas?
Agora entendo...
É para este lugar materno-incondicional que me arrastas! 
Para que te compreenda a partir das tuas misérias... 
das tuas ambiguidades...
Para compartilhar o pior, e o melhor de ti!
...
Estou aqui!

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Saber-me...


Nem todos que me veem me sabem plenamente.
Para saber-me é preciso vivenciar, experimentar, chegar bem perto,
explorando labirintos onde me perco,
encontrando fontes onde me afogo...
Posso mostrar-me, por vezes, vitrine de dilemas, mural de contrapontos,
Mas não deixe que te engane:
saiba-me na transparência o que não consigo mostrar na opacidade...
Assim posso ser hoje, uma, que ontem não havia.
Oxalá possa cultivar-me assim,
Inusitadamente eu...


domingo, 8 de agosto de 2010

Singulares



Não serei o que queres, não serás o que quero,
simplismente singulares,
para que a busca seja eterna, para que tudo seja impermanência!




sábado, 7 de agosto de 2010

Desconstrução

Hoje,
Você desconstruído, 
como o dia que chega ao fim.
Crepúsculo...
Momento perene na retina da alma, 
que traz em si o mistério de uma nova noite, cheia de lua, 
repleto de incertezas objetivas, vazio de certezas subjetivas, 
esperança de um dia renovador.
Amanhã,
Você desconstruindo as próprias alfições,
como o dia que se inicia.
Alvorada...
o orvalho da madrugada derramando-se em lágrimas de gratidão,
a brisa suave da serenidade tocando levemente a face do novo Homem,
o Astro Maior iluminando a consciência  de modo singular.
Tempo de amar...