Na sua ausência, reflito.
Observo-o nas entrelinhas de si mesmo, busco decifrá-lo.
Mas como? Se quando se faz presente, esvai-se indisfarçavelmente?
Para proteger-se, cria um outro de si mesmo, que pode ser desgastado pelo atrito das coisas da vida... mas é só isso... atrito, fagulhas...
Pretende que nada lhe atinja... por isso está ausente, escondido, se protegendo e se defendendo desse mundo...
Acredita ilusoriamente que é o outro que ergue as barreiras, mas o que dizer desse encapsulamento em "verdades acabadas"?
Qual paredes do quarto da infância para onde se vai quando o mundo torna-se ameaçador...
Culpará o Outro de não lhe compreender as razões e os motivos...
O preço?
Solidão, ainda que camuflada...
Solitude corrosiva, que fere a si mesmo, na ilusão de que fere ao Outro...
Até onde o isolamento?
Qual o limite da sua solidão?
...
Sei que existe alguém por detrás desses fogos de artifício.
Sinto esse Ser incipiente, que aguarda...
Aguarda a oportunidade de misturar-se ao caldo humano, intenso,
borbulhante, transformador, em trocas infinitas, imponderáveis,
incontroláveis,
Aguarda o tempo de renunciar ao medo (disfarçado em intelorância) daquilo que difere de você...
Não há nada que possa ameaçar-nos tanto quanto aquilo que desconhecemos em nós mesmos.
Tudo somos nós mesmos, ao avesso!
Existe um universo particular a espera do seu toque, do seu gesto, do seu olhar...
...
Eu, imperfeita e incompleta, mas suficientemente presente, emprestarei minha interioridade para que faça esse caminho novo. Estou aqui!