domingo, 9 de outubro de 2011

Livre pouso...



Sinceridade estampada, riso solto, pés descalços, mente aberta... 
Braços despretenciosamente largados ao lado dos olhares e das defesas...
Máscaras descansando sobre o criado mudo...
Hoje cada um é de si mesmo, com a súbita autorização de não ter que ser nada, e só Ser.
Ahh, saudade deste hoje!
Alimento a esperança de que o sonho me arrebate a eternizar este momento, no ir e vir de todo dia...
Mesmo que amanhã um Outro em mim aconteça, terei sempre essa presença do hoje, 
onde razão e emoção conviveram sem cobranças nem preconceitos.
Mesmo que as máscaras acordem no momento do despertar matutino saberei, dos olhos de cada um, que o sonho da liberdade habita por detrás da alegoria, sussurando à minha alma: seja você mesmo!


***




Eis o Ser...


A vida da gente é assim... nasce tudo desalojado do si mesmo.
Tudo apartado pelas simples circunstâncias do começar a existir...
O coador numa gaveta,
a chaleira no fogão,
o grão torrado e moído na dispensa,
o açúcar no pote sobre o balcão,
o bule na mesa,
a água na botica,
a xícara vazia...
Tudo existe; mas um não supõe a existência do outro, nem sequer imagina...
Foi preciso que um alguém desejasse que a alquimia se fizesse.
E prá tanto é necessário que cada elemento use, de si mesmo, sua melhor virtude, ao mesmo tempo impingindo-lhe, como tributo, a transformação profunda, a ponto de deixa-se usar exatamente aí onde se percebe melhor...
A chaleira deve abrigar a água, mas serão aquecidos a altas temperaturas.
O coador límpido será manchado pelo pó escuro e aromático, e ambos serão inundados pela água fervente.
No bule, o doce e alvo açúcar recebe sobre si o líquido fervente e negro... E o que temos?
O aroma! Primeira notícia de que algo além da mecânica visível se processou. Há algo no ar, que não pode ser tocado; somente sentido...
Nada mais é como antes... tudo está misturado, transmutado, marcado pela experiência. Só assim se sabe da completude de si.
Cada elemento com aquilo que lhe é próprio - nem bom, nem ruim, apenas a singularidade e suas marcas...
Então... o sabor! Ensina que o que se carrega em si, atravessado pela essência de cada elemento, possibilita tornarmo-nos mais que a soma das partes...
Voilà!
Eis o Ser!

sábado, 8 de outubro de 2011

Sabor de fruta mordida...






Reconheço um "Eu" dividido. 
Por necessidade de sobrevivência, para continuar desejando...

Vou me esgarçando pelo atrito constante 
entre um mundo impermeabilizado na frieza do concreto racional, que me constrange,
e o exercitar a plenitude do sentir...
Um cansaço oceânico invade a vida 
quando me limito ao ir e vir nas ruas tomadas por penumbra cinza-azulada...

Preciso de algo mais, algo melhor, algo que supere tal cisão!

Exercitar as fibras da sensibilidade, fortalecer o tônus emocional,
 não o ranger de dentes, mas avançar sobre a vida,
não a contenção, mas criar o gesto e a atitude.

Intensidade!
Pulsação!
Movimento!
Plenitude!

"todo amor que houver nessa vida"


(Incidência - Todo amor que houver nessa vida - Cazuza)