domingo, 9 de outubro de 2011

Eis o Ser...


A vida da gente é assim... nasce tudo desalojado do si mesmo.
Tudo apartado pelas simples circunstâncias do começar a existir...
O coador numa gaveta,
a chaleira no fogão,
o grão torrado e moído na dispensa,
o açúcar no pote sobre o balcão,
o bule na mesa,
a água na botica,
a xícara vazia...
Tudo existe; mas um não supõe a existência do outro, nem sequer imagina...
Foi preciso que um alguém desejasse que a alquimia se fizesse.
E prá tanto é necessário que cada elemento use, de si mesmo, sua melhor virtude, ao mesmo tempo impingindo-lhe, como tributo, a transformação profunda, a ponto de deixa-se usar exatamente aí onde se percebe melhor...
A chaleira deve abrigar a água, mas serão aquecidos a altas temperaturas.
O coador límpido será manchado pelo pó escuro e aromático, e ambos serão inundados pela água fervente.
No bule, o doce e alvo açúcar recebe sobre si o líquido fervente e negro... E o que temos?
O aroma! Primeira notícia de que algo além da mecânica visível se processou. Há algo no ar, que não pode ser tocado; somente sentido...
Nada mais é como antes... tudo está misturado, transmutado, marcado pela experiência. Só assim se sabe da completude de si.
Cada elemento com aquilo que lhe é próprio - nem bom, nem ruim, apenas a singularidade e suas marcas...
Então... o sabor! Ensina que o que se carrega em si, atravessado pela essência de cada elemento, possibilita tornarmo-nos mais que a soma das partes...
Voilà!
Eis o Ser!

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